Um Papa Jansenista (II)


"Ocorre-me neste ponto algo que Sócrates disse a Fédon. Em diálogos anteriores tinham sido suscitadas muitas opiniões filosóficas falsas, pelo que Sócrates diz: "Seria muito compreensível que alguém, por irritação com tantas noções erradas, desprezasse ou ridicularizasse para o resto da sua vida qualquer discurso sobre o ser – só que desta forma lhe escaparia a verdade da existência e sofreria um grande dano".
O ocidente está ameaçado, desde há muito tempo, por esta aversão às questões fundamentantes da sua razão, e só pode sofrer grandemente com isso. A coragem de se abrir a toda a amplitude da racionalidade, e não a rejeição da sua grandeza - este o programa com o qual uma teologia assente na fé bíblica entra no debate do tempo presente. "Não agir racionalmente, não agir com o logos, é contrário à natureza de Deus", disse Manuel II, partindo da sua compreensão cristã de Deus, ao seu interlocutor persa. É para este grande logos, para esta vastidão da racionalidade, que convidamos os nossos interlocutores no diálogo das culturas. Redescobri-lo constantemente, eis a grande tarefa da universidade."

Palavras finais de Bento XVI em Regensburg, 12 de Setembro de 2006

1 comentário:

  1. Lembra um extraordinário passo de Chesterton, numa das histórias do Padre Brown, quando o ladrão disfarçado de sacerdote que o tentara em vão enganar lhe perguntou por que motivo tinha desconfiado e obteve a inesquecível resposta:
    «Você atacou a Razão. Isso é má Teologia».
    O agir con-sequente couraça, decerto, a demanda do Divino, apesar de o paroxismo da persistência para além das forças adivinháveis ter talvez mais potencial para a pescaria de homens de que Simão Pedro & Sucessores foram encarregados. Até nisso os Dois mais recentes Se complementam...

    Abraço

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